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Câncer Colorretal e a importância de sua prevenção

O câncer do intestino ou câncer colorretal (CCR) apresenta incidência variável nos diferentes países predominando naqueles economicamente mais ricos e industrializados como América do Norte, Europa setentrional, Nova Zelândia e Austrália. Incidências menores são registradas na América do Sul, sudoeste da Ásia, África equatorial e Índia.
No Brasil, o câncer em geral configura-se como um problema de saúde pública de dimensões nacionais. Com o aumento da expectativa de vida do povo brasileiro, e com a progressiva industrialização e globalização, as neoplasias ganharam importância crescente no perfil de mortalidade do país, ocupando o segundo lugar como causa de óbito. O CCR em todo o país figura entre os mais frequentes e a sua incidência não é homogênea, com prevalência na região sul e sudeste. Em 2016 foi constada a ocorrência de 34.280 casos novos para ambos os sexos sendo 16.660 casos em homens e 17.620 em mulheres (INCa, 2016). Ocupa o 4º lugar em incidência para homens e o 3º para mulheres, excluídos os tumores de pele, não melanomas. Em relação à idade, mais de 50% dos casos manifestam-se em indivíduos com mais de 60 anos (média de 67 anos), sendo o risco deste câncer tanto maior quanto maior a faixa etária (risco de 0,05 até 39 anos e 4,3 entre 60 e 80 anos).
O padrão de mortalidade para este câncer acompanha o de incidência e com taxas mais elevadas nas regiões Sul e Sudeste.
Apesar do interesse deste assunto, no Brasil como em muitos outros países, ainda a porcentagem média de sobrevida de cinco anos permanece estável ao redor de 50%, podendo chegar a 70% quando o atendimento é realizado em centros especializados em cirurgia colorretal. O índice de sobrevida de 5 anos, nos tumores restritos às camadas superficiais do intestino é superior a 90%. Quando o acometimento inclui todas as camadas da parede do intestino, essas taxas alcançam 60-70 por cento. Nos casos em que ocorre o acometimento de linfonodos, a sobrevivência costuma ser inferior a 50%.
O CCR produz, com freqüência, sintomas pouco perceptíveis aos doentes, até que a doença esteja em fase avançada. Entretanto, o CCR é uma doença passível de prevenção. A aplicação clínica dos conhecimentos obtidos pelos estudos de genética molecular objetivando identificar pacientes com maior risco, o desenvolvimento de estratégias de intervenção dietética, quimio-prevenção e, sobretudo, os programas de rastreamento em indivíduos com risco aumentado para CCR representam caminhos a serem percorridos objetivando diminuir a mortalidade.

O câncer do cólon e do reto tem a particularidade de exibir lesão precursora conhecida que é o pólipo adenomatoso. O tempo estimado para aparecimento do adenoma, seu crescimento e transformação em tumor é superior a 10 anos, período este suficientemente longo para permitir sua identificação, ressecção e, portanto, prevenção do câncer.
A alta incidência do CCR e a diferença nos resultados do tratamento de acordo com o estádio da doença justificam os esforços para detecção precoce e de seu rastreamento em população considerada de risco para a doença. Por rastreamento entende-se a aplicação de provas simples, de fácil execução em uma grande massa populacional, com o objetivo de selecionar indivíduos, os quais, ainda que assintomáticos, devem submeter-se à métodos mais específicos e de maior complexidade para a possível detecção de adenomas e de câncer precoce, com o objetivo de diagnosticar mais pólipos, diminuindo assim a mortalidade por CCR na população alvo do rastreamento.
Pacientes com idade superior a 50 anos e sem outros fatores de risco para CCR geralmente integram a
População de Baixo Risco; pacientes com história familiar de CCR em um ou mais parentes de primeiro grau, história pessoal de pólipo maior do que um centímetro ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e os indivíduos com antecedente pessoal de CCR tratado com intenção curativa podem ser classificados como de Risco Moderado; e os indivíduos com história familiar de CCR hereditário ou com diagnóstico de doença inflamatória intestinal na forma da pancolite ou colite esquerda geralmente são classificados como de Alto Risco para desenvolver CCR.

O protocolo de rastreamento para o câncer colorretal mais utilizado para população de risco baixo e moderado é a realização anual da pesquisa de sangue oculto nas fezes, seguida pela colonoscopia ou retossigmoidoscopia nos indivíduos com resultado positivo. As evidências científicas até o momento apontam para o início do rastreamento para o câncer do intestino com pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade.. A colonoscopia é o método mais eficaz para o diagnóstico precoce e prevenção. A polipectomia endoscópica reduz a incidência do CCR de até 90% e de morte de até 100%. Deve ser o primeiro exame a ser feito nos indivíduos de alto risco para câncer a partir dos 40 anos, e como rotina nos de risco moderado portadores de resultados positivos de pesquisa de sangue oculto.
Entretanto, apesar da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do CCR, são bem reconhecidas as dificuldades inerentes à realidade brasileira relacionadas às condições sócio-econômicas desfavoráveis, desconhecimento da população sobre este tipo de câncer, retardo ou mesmo falta de acesso ao sistema de saúde e insuficiente disponibilidade diagnóstica. Esta realidade é responsável pelo atraso do diagnóstico e o tratamento de lesões, em geral em estadios avançados que são mais complexos e demandam internações prolongadas.
A realização de ações contínuas para conscientização da classe médica e da população em geral para a importância do CCR, divulgando as medidas de prevenção tanto primárias (identificação de fatores de risco para CCR, modificação dos hábitos populacionais quanto á alimentação e estilo de vida), como secundárias (identificação da população de risco, rastreamento de lesões precursoras, instituição de exames periódicos e diagnóstico precoce do câncer) é essencial para colocar o assunto na pauta das discussões sobre o câncer colorretal.
Além do benefício da cura desta doença que é frequente, de incidência em ascensão, evitável, curável quando de diagnóstico precoce, porém muitas vezes fatal, a implantação destas medidas seguramente reverterá em economia de recursos para o País.